Criminosos têm usado softwares capazes de recriar a voz e a aparência de pessoas para aplicar golpes. Essas ferramentas permitem sincronizar expressões faciais, movimentos labiais e tons de voz, produzindo falsificações muito parecidas com vídeos e áudios reais.

No Rio de Janeiro, a Secretaria de Segurança Pública emitiu um alerta sobre o chamado “golpe do roubo da voz”. Nessa modalidade, os criminosos se passam por representantes da secretaria ou de delegacias de polícia e entram em contato com as vítimas, supostamente para tratar de “uma ocorrência”. Durante a ligação, fazem perguntas simples, apenas para gravar a voz. Com o material coletado, usam inteligência artificial para reconstruir falas em áudios ou vídeos para enviá-los a familiares e amigos das vítimas.
Caso real: ameaça e fraude
Irmã de um dos alvos desse tipo de crime – e que pediu anonimato – narrou o golpe sofrido pela mãe. De acordo com ela, os golpistas fizeram uma ligação durante a madrugada, em que o rapaz dizia ter sido sequestrado. A partir daí, a família entrou em pânico, principalmente após os bandidos usarem a voz manipulada da suposta vítima.
“Por um momento, ele fala assim: ‘Tá acreditando não? Vou botar seu filho para falar com você’. E é a hora que entra uma voz idêntica à do meu irmão, tanto que a minha sobrinha ouviu e também fala, assim, que era de fato a voz do pai dela. E ele fala assim: ‘Ó, mãe, fica tranquila, ele só quer dinheiro. Eu tava saindo da festa em Santa Teresa quando fui pego’. E ele foi dando algumas informações pra minha mãe, genéricas até, acredito eu, do tipo: ‘Ah, mãe, você é professora, mas pode ser que tenha joias. Pega aquelas joias que você guarda no armário.”
Segundo ela, foram mais de duas horas de ameaças pelo telefone até chegarem em um acordo: a família entregou joias e fez transferências bancárias para os golpistas. Tudo isso, até ser descoberto que o rapaz estava bem e tudo não passava de uma farsa.
“Ela acabou combinando com o bandido que ela jogaria joias pela janela. O cara falou para ela que iria até a casa dela. Ela disse que não passou o endereço dela para os criminosos, que os criminosos sabiam, mas eu acredito que ela tenha passado no nervosismo, enfim, para resolver a situação. Além disso, ela ainda comprou uma passagem aérea e fez a transferência por dois Pixs também para contas diferentes”.
Crescimento do crime e desafios legais
Histórias como essa tem aumentado no país. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, houve uma alta de 17 % nos casos de estelionato por meio eletrônico. O advogado criminalista Leonardo Mendonça, especialista em Direito Penal Econômico e Crimes Cibernéticos, explica por quê o crime é de difícil repressão.
“Porque envolve prova subjetiva e reconstrução de contexto de engano. Quando adicionamos a inteligência artificial ou adequação, a situação ainda se agrava. A vítima pode ser enganada até por quem acredita estar vendo ou ouvindo. É uma forma de fraude que desafia os próprios sentidos humanos”.
Prevenção e cuidados recomendados
Leonardo Mendonça passa algumas dicas de prevenção.
“Sempre desconfiar de contatos feitos em nome dos órgãos públicos, evitar expor dados pessoais, número telefônico, endereço, contas e senhas de bancos, os chamados dados sensíveis, em redes sociais ou em ligações telefônicas. Antes de confirmar qualquer informação solicitada nessa ligação, checar a identidade de quem a realiza, por intermédio de vídeo-chamada. O WhatsApp pode ser uma ferramenta importante nessa checagem”.
A legislação atual já enquadra esses crimes como estelionato digital. Porém, o advogado destaca a necessidade de atualização do Código Penal para prever agravantes específicos relacionados ao uso de tecnologias avançadas.
Veja a reportagem no site da Agência Brasil.
Crédito da imagem: ChatGPT